Fazendo uma retrospetiva do evoluir desta vila ao longo dos tempos, parece-nos existirem três coordenadas essenciais pelas quais passou o seu crescimento e prestigio.
Antes de tudo o mais, valeu-nos a “Lenda do Milagre de Ourique”, que em nosso entender foi a cúpula espiritual necessária para a afirmação deste lugar como agregado urbano. De povoado insignificante com umas dezenas de vizinhos, passou mais tarde a vila, sede de concelho, subalternizando outras vilas como Entradas, que em finais do século XVI tinha uma importância económica e social incomparavelmente superior.
Mas à pala do “Milagre de Ourique”, aqui se erigiram obeliscos e monumentos e construiram duas igrejas que ao compasso dos anos foram sendo sistematicamente ampliadas e melhoradas, malgrado à data o numero de fiéis ser diminuto para a grandeza dos templos.
Porém, a razão última da sua edificação não era propriamente a de dar guarida aos devotos locais, mas era antes a de elevar para os céus a materialização da fé ou do agradecimento de reis e eclesiásticos pela excelsa graça vinda do Supremo para o rei primeiro.
Em torno das igrejas grandes, romperam e encostaram-se as casinhas pequenas e pouco a pouco o casco urbano do lugar foi-se definindo, consolidando sempre pobrezinho, muito insipiente.
E assim era de tal forma vera que quando o Rei Moço, antes de Alcácer Quibir, passou por aqui para se ajoelhar em gesto de veneração à heroicidade de D. Afonso Henriques e à bravura dos seus feitos, teve de pernoitar em Entradas, porque neste sítio não havia casa com dignidade para acolher sua Alteza. Findava então o século XVI.
Cerca de meio século depois, e tendo já finado o dito D. Sebastião, sendo o rei de Espanha soberano de Portugal, funcionou de novo o reflexo do “Milagre de Ourique”.
Na altura , a Igreja dos Remédios ou das Chagas do Salvador, templo evocativo da bravura afonsina, evidenciava ruínas atentatórias da memória que evocava e para fazer face a custos inerentes ao restauro, transferiu-se para aqui uma feira antes existente em Padrões, com o propósito de suportar com os rendimentos dos respetivos terradegos tais despesas inadiáveis.
Foi a partir daqui que praticamente nasceu e ganhou dimensão de realce o “Crasto”.
Este é o segundo vetor pelo qual passa a afirmação deste lugar, sendo no nosso entender a feira o fator mais decisivo para que aqui se forjasse um aglomerado urbano crescente em tamanho e nomeada.
Por outro lado, a feira ganhou com a mudança e aqui veio rapidamente a florescer graças à posição geo-estratégica que ocupamos.
Foi grande a oposição externa consubstanciada em ações diversas que só o tempo e uma decisão judicial acabaram por dirimir. Lembra-me, a propósito, uma história recente relacionada com o Centro de Saúde de Castro, da qual se infere que o reconhecimento desta terra como pólo de inegável importância sub-regional de quando em vez vem à tona.
Mas mais tarde, já nos nossos dias, a exploração mineira em Neves-Corvo constituiu a terceira coordenada determinante de nova vitalidade económica e comercial do lugar, imprimindo-lhe novo salto em termos de crescimento urbano.
Das armas de Castro, fazendo jus à gratidão e à memória das gentes, constam o primeiro e o último vetor antes referidos, mas ignora-se o segundo.
Despreza-se hoje, tem-se aliás vindo repetidamente a menosprezar, a razão vital que tornou um lugarejo num burgo aglutinador da confluência de interesses diversos, para onde convergem anualmente, como que por impulso, milhares de almas, em negócio, em romaria, quase em devoção.
A feira deveria ser o ex-libris desta terra em nome da história e da razão de existirmos.
De facto, embora agora já se tenha perdido muita da mística e voltemos as costas à feira, a empurremos cada vez mais para longe de portas, maldizendo o dia e meio da sua duração, dantes abríamos-lhe as casas, os braços e o coração.
Metade da vila de antanho foi construída às tensas da feira, de todo o Alentejo lavradores e mercadores vinham aqui fazer casa para utilizarem na semana da feira. Eram as “casas de pousada” que deram nova dimensão à terra e durante o ano inteiro serviam de morada a trabalhadores locais que as ocupavam sem renda, ficando o uso pela sua manutenção e guarda.
Paralelamente, as casas restantes, nos dias da feira eram juncadas e nos quartos, casas de fora e corredores, apinhavam-se de gente que nelas faziam quartel. Nos quintais abriam-se poços e cisternas e faziam-se grandes cavalariças para receber as alimárias que pagavam um tanto à argola. Tudo era ganho, tudo era proveito.
Fora disso, valia mais ainda a vibração espíritual proporcionada a residentes e feirantes pelo desejo crescente de vir, de receber, de conviver e partilhar emoções. E este sentimento enformou o estar das nossas gentes, proporcionou-lhe a abertura de horizontes que têm. Ensinou-os a conviver com tendeiros, receber forasteiros e respeitar os ciganos, num misto de altivez e de humildade.
É Outubro. Chegou a Feira. A tradição ainda corre pelas ruas de Castro.

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