A Europa

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Hélder Guerreiro

Vale a pena recuperar a visão europeia de Vítor Hugo (em 1849!) onde ele dizia que ”há-de chegar o dia em que a França, a Rússia, a Itália, a Inglaterra, a Alemanha, todas vós, nações do continente, se associarão intimamente numa unidade superior, sem perderem as qualidades que vos distinguem… há-de chegar o dia em que os únicos campos de batalha serão os mercados abertos ao comércio e mentes abertas a novas ideias… em que a balas e as bombas serão substituídas por votos, pelo sufrágio universal das pessoas…”
Nós que vivemos neste lado do mundo e nos ensinaram a história pelos nossos olhos temos dificuldade em percepcionar as Índias que existem dentro da Índia, as Chinas que existem na China e as diferentes Américas que existem nos Estados Unidos da América. Digo isto porque já Vítor Hugo entendia que a Europa era e é um conjunto de nações que podem e devem ser congregáveis com base num desígnio (numa Política). Digo isto porque a constatação de que somos um caldo cultural não tem nada de novo nem difere em nada de outros exemplos no mundo. Digo isto porque a nossa história conjunta nada é mais do que uma vantagem para podermos construir um futuro de bem-estar para todos e cada um individualmente. Temos um modelo social comum, temos uma moeda única, temos longos anos de guerras e de reconstruções, temos integrações e temos divisões.
Digo isto porque o momento é de dizer, de discutir e de construir mais Europa. Porque no meio de toda a grande confusão económica associada às dívidas soberanas surgem, como ocorrências exóticas, manifestações de jovens por todas as cidades (fundamentalmente nas capitais) Europeias. Os “Indignados”, “os precários à rasca” exigem “Democracia Real, Já!” e lutam, por vezes de forma desproporcionada como ocorreu em Inglaterra, contra situações de precariedade no emprego. Enfim! Reivindicam o seu lugar no “Sonho Europeu”.
E a forma que encontrarmos de lidar com esta questão, do meu ponto de vista, numa perspectiva de visão na construção do processo Europeu, será a base para a nova Europa porque estes jovens são os primeiros filhos da globalização, são os primeiros portadores do sentimento de pertença Europeu porque são mais europeístas do que nacionalistas e já vêem a Europa como uma nação.
No fundo, deu-se corpo ao “Sonho Europeu”, muito diferente do “Sonho Americano” porque é solidário, porque precisa do papel do estado, porque repudia a precariedade e exalta, exige mesmo, uma democracia participativa, mais próxima e muito mais avançada do que aquela que exige apenas a presença do cidadão nas urnas de voto. Este sonho europeu ainda tem como génese o modelo social europeu.
Jamais terei a veleidade visionária de Vítor Hugo mas atrevo-me a dizer que virá o tempo em que a Europa será uma Federação de Estados Multiculturais com uma sociedade próspera assente numa economia solidária. É possível e está a acontecer agora nas nossas ruas, praças e cafés porque, como disse George Steiner, a “Europa tem uma dimensão humana: tem cafés, tertúlias, as ruas têm o nome das pessoas e é possível atravessá-la a pé.”
O mais curioso de tudo isto é eu acreditar que, apesar de actualmente minoritários, os Partidos Socialistas Europeus são os portadores naturais desta visão humanista. Enfim, sejamos nós capazes de construir na nossa história neste sentido. Se não for assim será de outra forma!

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