A esquerda central

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

José Carlos Albino

consultor

Defendendo que necessitamos de congregar um “Bloco Social de Progresso”, que se reveja e fundamente no aprofundamento da democracia, aos diversos níveis, considero que só a ideologia socialista (dos utópicos, com cheiros marxistas e sociais-democratas) poderá contribuir para, nos tempos actuais, construir um programa sócio-político de progresso sustentável. Usando a terminologia dominante, direi que precisamos de uma esquerda central!
A concepção e construção deste programa com a bandeira da “democracia progressista” é, pois, um desafio aos cidadãos activos que situam à esquerda do espectro político. Assim sendo, temos que equacionar os obstáculos e contributos que os partidos políticos que se reclamam de esquerda trazem a estas reflexões e debates para um inovador programa.
Neste quadro, temos o Partido Socialista, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. Sem esquecer os “sem-partido à esquerda” e a linha social-democrata do PSD. Vamos um a um, indo dos mais à esquerda no figurino parlamentar.
O Bloco de Esquerda que, há uma década, apareceu como um inovador movimento político na esquerda, em que nunca acreditei, vem-se revelando um bluff e má fotocópia do PCP. Não por acaso. O “BE” é a UDP estalinista, disfarçada de modernidades. Existem para, apenas, destruírem o PS e arregimentarem protestos e descontentes legítimos. O seu contributo para uma “esquerda central”, que nos faça engrandecer o caudal da democracia progressista, é só um. Diluírem-se! Deixando aos cidadãos e espaços de progressismo libertarem-se e movimentarem-se!
O Partido Comunista, há um século activo, não superou a catástrofe do “império soviético”. Mesmo quando o “derrube do muro” mostrou a falência da política estalinista imperialista, manteve-se agarrado ao passado militante e dogmático, transformando-se na “Grande Força do Protesto Social”. Por imperativos de sobrevivência, defendem-se como podem, o que os distancia de programas ousados, mas realizáveis, de ampla democracia progressista. Sem condições de se sobressaltarem colectivamente, apenas podem ser um travão ao liberalismo e um engrossamento de novas e abrangentes militâncias à esquerda. Enquanto instituição, nada se pode esperar para agrupar a democracia progressista. Que não perturbem estes processos já será um positivo contributo.
E, agora, o partido maior da esquerda. O Partido Socialista, nascido há quatro décadas, tem o seu referencial principal no combate pela democracia e progresso social. A sua ideologia e programa nunca equacionaram e avançaram para aprofundarem um “novo modelo socialista”. Na nossa República, pós 25 de Abril, defenderam a democracia política e a soberania nacional. Ensaiaram um conjunto de políticas económicas e sociais progressistas, que superassem o liberalismo dominante. Acrescentaram modernidade, solidariedade e racionalidade. Mas o partido e suas lideranças longas não inovaram nas suas intervenções e estratégias. Tem marcado passo na procura dum movimento global para a democracia progressista. Assim, só com um “sobressalto organizado” do partido poderemos ter um contributo para a construção de uma esquerda central, pelo exercício da democracia progressista.
Perante este panorama, temos pela frente uma tarefa hercúlea para vislumbrarmos futuros saudáveis e felizes. Para estes esforços de concepção e acção são indispensáveis as intervenções, mais organizadas e abrangentes, dos activistas políticos progressistas sem partido. Do centro político espera-se e deseja-se um abandono das teses liberais e, ou, conservadoras, na procura de direcções progressistas, porque sustentáveis.
A promoção desafiante e organização de um “Fórum pela Democracia Progressista”, em que o Partido Socialista deverá ter um papel central, será um primeiro passo relevante que deverá ter prosseguimentos cada vez mais abrangentes e inovadores.
O desafio fica feito a todos! Não podemos ficar de braços caídos perante a encruzilhada civilizacional em curso.
Reflexão e acção convergente, exige-se!

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