Antes de mais e por respeito à verdade, este artigo foi provocado pela revista “Actual”, do “Expresso”, onde o tema principal foi a Filosofia, ou a falta dela. Nesta revista é posto preto no branco que a disciplina de Filosofia passou a ser de opção, não fazendo parte das matérias que são exigidas para concluir o ensino secundário.
Já tinha ouvido falar desta hipótese mas, incrédulo, pensei que tal não viria a ser uma realidade do nosso ensino oficial. Mas, perante a confirmação do deitar para o lixo a filosofia, fiquei revoltado e triste.
Como é possível educar jovens para a vida que está à sua frente sem que se estude sobre a curiosidade mais importante das nossas vidas: <i>donde viemos, o que somos e para onde vamos? </i>A capacidade de pensar sobre estes mistérios, só possíveis pelo “bicho-homem”, é para mim a mãe de todos os conhecimentos relativos às ciências físicas ou sociais e, assim, <i>sem o estimular da reflexão, do pensamento e do debate sobre as várias “filosofias” </i>seremos transformados em ignorantes do essencial e altamente conhecedores das matérias que nos darão uma profissão que nos dê os euros necessários para viver ou sobreviver, sem qualquer lógica de que futuro queremos construir.
E não venham os críticos da Filosofia (feita de hipóteses de respostas ao que vamos vivendo e conhecendo e de conceitos abstractos que nos ajudem a ser curiosos e pensadores) dizer que “isto” é assunto<i> só para intelectuais, pois é pura mentira. </i>De facto, e desde há muitos séculos, mulheres e homens sem acesso à educação básica, como sejam pastores, pescadores, mineiros ou caçadores, têm formulado ideias sobre o céu, a terra e mar que, com curiosidade, vieram a pensar sobre o sentido das coisas desconhecidas que lhes apareciam à frente dos olhos. Um exemplo de um homem que, para mim e à sua maneira, foi filósofo, é o nosso grande poeta popular António Aleixo, que até era analfabeto.
Não sabemos ao certo quem e com que objectivos, são os “iluminados” que querem matar a curiosidade e o pensamento nas camadas jovens, mas arrisco uns palpites:
• Os mandantes das varias religiões que “ensinam” de forma romântica e desde a mais tenra idade que só há uma resposta, a do seu Deus, que para tudo tem explicações;
• Ou, os tecnocratas de varias tendências que apregoam que o mundo nasce e morre tal como as nossas vidas e que o que interessa é viver sem dificuldades até morrer, mesmo que não saibam nem queiram saber o que andam por cá a fazer, e ainda, os cientistas de vários saberes que pensam que as ciências, passo a passo, nos darão resposta a todos os mistérios que a vida nunca deixou de nos intrigar e fazer pensar.
Para mim a disciplina de Filosofia, nos antigos sexto e sétimo ano do liceu, foi um abrir de horizontes em que aprendi a necessidade de pensar maturamente sobre o passado, o presente e o futuro, e de o fazer conversando, debatendo e gerando polémicas com todos, independentemente das suas opções, pois o diálogo é essencial ao desenvolvimento do nosso pensamento, do estudo e dos nossos projectos de vida.
Concluo, dizendo a todos os que entenderem que se quer matar o pensamento e a Filosofia, para que se juntem e reivindiquem a filosofia nos últimos anos do Secundário, de forma a que tenhamos um ensino que nos faça saber como ir fazendo!
Cá vos espero, caros leitores, e desejo-vos um 2007 activo, que nos traga futuro.