A Dimensão da Coesão

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Hélder Guerreiro

Muitos são os que vêm no Alentejo o nome de uma região. Talvez por força da promoção turística, talvez pela força dos vinhos do Alentejo, do cante, do azeite e dos queijos do Alentejo. No entanto, uma região não é uma “denominação de origem” e muito menos um “nome protegido”. Uma região é o seu povo, as suas ligações e, fundamentalmente, o seu espaço de vida.
Neste sentido recordo, com saudade, os relatos dos meus avós sobre as idas longínquas à “Feira de Castro”, ao banho do “vinte nove” à Zambujeira do Mar, da “Barreira” em Odemira, das estadias, penosas, no Hospital de Beja e, imagine-se, do bispo de Beja. Mais recentemente, frequentando o Instituto Politécnico de Beja, recordo viver intensamente a “Ovibeja”, o “Rosal de La Fronteira”, as discussões calorosas sobre os toiros de Barrancos, a ovelha “campaniça” de Mértola, o Alqueva, a Herdade da Abóboda e o queijo (e queijadas) de Serpa, sempre acompanhado da famosa imperial (muitas) do “Lebrinha”.
É, julgo e sinto eu, destas pequenas (grandes) coisas que se constrói uma região. A isto convencionou-se chamar apropriação, sentimento de pertença ou, mais apropriadamente, alma! É disto que se faz o cimento da história de um povo.
Não vale a pena construir artificialidades assentes em suposta necessidade de massa critica, de dimensão territorial e/ou demográfica, ou mesmo de centros urbanos geradores de oportunidades, porque não faz sentido falar de uma região com 535.000 habitantes (Alentejo) quando outras, no mesmo quadro, terão 3.700.000 habitantes (Norte). Porque não faz sentido falar de uma região com 4,9% do PIB Nacional (Alentejo) e outras, no mesmo quadro, com 46% do PIB Nacional (Lisboa e Vale do Tejo). Assim, quantitativamente, não faz sentido falar de regionalização.
Talvez, mas só talvez, faça sentido olharmos para aquilo que nos liga no dia-a-dia, nas necessidades que temos em construir ligações da população com os hospitais de Beja e do Litoral Alentejano, das ligações da população com os tribunais da nova comarca do Litoral Alentejano, da necessidade que existe em construir órgãos de comunicação que liguem todo o Baixo Alentejo (rádio e jornal). Talvez, mas só talvez, seja importante potenciar os novos projectos estruturantes da região (Alqueva, aeroporto de Beja, Instituto Politécnico de Beja, IP8, rede de cineteatros e porto de Sines) e estende-los a todo o Baixo Alentejo.
Talvez seja importante olharmos para essa entidade milenar, a Igreja, e percebermos porque razão a sua organização corresponde, persistentemente, ao Baixo Alentejo. Talvez, de uma vez por todas, seja o momento para agarrarmos a Associação de Municípios do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral como o actor regional que agrega todos os municípios desta fabulosa região e nos concentremos em construir um caminho certamente difícil, mas que é nosso!
Talvez seja difícil mas certamente que “a maior loucura é ver a vida como ela é e não como poderia ser!”

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