A campanha

Segunda-feira, 16 Agosto, 2021

José Francisco Encarnação

Timidamente começa a ouvir-se. Primeiro ao longe, depois cada vez mais perto. O anúncio da apresentação das listas de candidatos à freguesia, à câmara, à assembleia municipal. A música que acompanha é aquela já muito conhecida, já gasta de muitas e muitas outras campanhas. Cada partido tem a sua música. Todos sabem quem aí vem só pelo som emanado pelas cornetas já velhinhas colocadas por cima do carro que irá palmilhar muitos quilómetros nos próximos dias. Anuncia-se a hora e o local da próxima parada da caravana. Na frente, a abrir caminho para os candidatos, para quem sonha alcançar a cadeira de sonho de muitos mas em que poucos irão sentar-se, vão aqueles que aí andam com verdadeira convicção. Aqueles que metem os “dias de campanha” na empresa, sujeitando-se, ainda que camufladamente, a represálias por parte das chefias pois para esses irão ser apenas uma dias em que se irão “baldar” ao trabalho. Aqueles que, sem esperar nada em troca, dão tudo de si. A manhã é passada a calcorrear quilómetros de forma a que no comício da noite se consiga casa cheia. Em cada paragem existe sempre a obrigatória oferta da esferográfica, do porta chaves. O almoço tanto pode ser uma lata de conserva coma umas sandes. Raramente se come sentado a uma mesa. Com o aproximar da hora do comício a caravana tende a aumentar. Começam a juntar-se os candidatos, os apoiantes que estão sempre em todas as apresentações, também para que os opositores fiquem com a ideia que não cabia mais ninguém. A paragem faz-se já ao lusco fusco. A caravana estaciona e dá a oportunidade aos cafés do sítio de finalmente terem uma receita de jeito. Os candidatos vão fazer o “porta a porta”. As promessas levemente abordadas para que os locais, se quiserem ouvir tudo, vão à noite ao comício.
À hora marcada todos se começam a juntar no local que irá servir para todos os partidos. O animador tenta puxar pelo pessoal, faz loas aos candidatos, enaltece as virtudes e disfarça os defeitos. Um a um, por ordem de importância. primeiro o mandatário, a seguir o candidato à junta, um dos mais aplaudidos pois é aquele que todos conhecem melhor. A seguir o candidato à assembleia municipal, aquele órgão para que todos viram mas muitos não sabem bem o que faz. Por último, o animador de serviço faz com que o candidato à câmara seja recebido em apoteose! Demora a chegar ao palco pois quer cumprimentar todos. Lê o seu discurso, improvisa consoante o local do concelho onde está e termina com um apelo ao voto. e com uma promessa. Que após ganhar as eleições ali voltará para agradecer a todos!
A noite vai longa, o dia seguinte é de trabalho. E tudo se voltará a repetir. As voltas, os incentivos, os discursos. É assim de quatro em quatro anos.
Com todos os candidatos. De todos os partidos.
Dia 24 de setembro acaba.
Dia 27 todos voltarão à sua rotina. Uns vencedores, outros vencidos mas não convencidos.
É a democracia a funcionar.

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