A aventura do PSD

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

José Nicolau Gonçalves

O PPD-PSD, independentemente de quem o lidera, por mais que se esforce, nunca consegue promover um clima de estabilidade e de unidade, sobretudo quando o país mais precisa. Nem os seus barões, notáveis militantes e dirigentes, se entendem sobre a boa prática das propostas aventureiras e insensatas que promovem a decomposição do Estado, como o conhecemos, e que Pedro Passos Coelho (PPC) teima em defender de forma ultra liberal.
Refiro-me em concreto à proposta de Revisão Constitucional: medida extemporânea, perigosa e inconsequente, que “deliciosamente” é elaborada por um Monárquico como profeta e guardião das regras da República. O dr. Paulo Teixeira Pinto, acompanhado pelos conselhos do “pai político” de PPC deseja ocupar o espírito e satisfazer a fantasia de alguns, que não estando disponíveis para exercer a missão pública, teimam em interferir no mando da governação de Portugal. Tudo isto se resume à necessidade de alcançar o poder, confundindo os portugueses e usando a sensível pertinência dos processos como marco de uma agenda política. Mas note-se: em 296 artigos o PSD propõe a alteração de 98, revelando uma visão constitucional e de regime ultra liberal e concebida na perspectiva de gestão do poder por parte do PSD e não, como deveria, de respeito pelos direitos consagrados e de promoção da cidadania.
Muito mais que a semântica da “causa atendível” para substituir a justa causa no despedimento o PSD deseja liberalizar o despedimento; muito mais que as retóricas económicas o PSD ataca o “Estado Social”, rasurando a gratuitidade no acesso à educação e à saúde e a sua posterior privatização; para além das necessidades de rigor orçamental o PSD defende as privatizações como solução ecuménica para todos os males.
E ainda, por muito que a sociedade tenha evoluído, o PSD defende o regresso ao passado com o reforço dos poderes presidenciais: demissão do governo sem dissolução da A.R., tornando o governo dependente do PR e desta forma validando o sonho de um governo, uma maioria e um presidente, de Sá Carneiro. E à AR atribui funções de “Moção Construtiva” para eleger um Primeiro-Ministro alternativo, sem auscultação ao Presidente. Mas a aventura constitucional do PSD alarga-se ao sistema eleitoral: propõe, no fundo, acabar com a representatividade dos pequenos partidos e esvaziar o poder de voto dos portugueses. E a seis meses das eleições presidenciais pretende lançar na discussão a alteração das regras de jogo. Tamanha insensatez e irresponsabilidade revela não só a má fé das propostas o desespero na chegada ao poder, como também, indicia a incapacidade do PSD em se constituir como uma alternativa séria, credível e defensora dos interesses nacionais.
A visão constitucional do PSD de PPC não passa de uma proposta aventureira e perigosa, desencontrada dos reais problemas e das prioridades de governação. É, em conclusão, uma proposta inútil que serve apenas para provar que o líder do PSD, incapaz de soluções para dirimir a crise vê na crispação política e na instabilidade um modo de conquistar poder. Porque o que aqui se revela é a intenção de ganhar poder.

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