A arte de fazer política!

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Maria Fernanda Romba

Passo os olhos pelos jornais à procura de tema para a minha crónica e detenho-me em meia dúzia de notícias que, por uma ou outra razão, me despertam mais atenção.
Nuns, é a reentré a marcar a actualidade política, depois dum compasso de espera devido às férias dos políticos, compasso que acabou interrompido pelos vetos do Presidente da República à Lei das uniões de facto, por inoportuna, e à do levantamento do sigilo bancário, face à sua oportunidade.
Noutros, as questões do sector do turismo e os seus reflexos na economia, a obrigarem, em final de época estival, a um balanço, pondo responsáveis do sector e trabalhadores, de acordo, quanto à afluência dos turistas que parece, afinal, ter sido boa. Um olhar mais atento detém-se na notícia que dá conta de um estudo que refere que 40% dos trabalhadores da EU não conseguem conciliar o trabalho com a família. A notícia ocupa um espaço diminuto no jornal e dou por mim a pensar na enorme desproporção que existe entre aquele espaço e a importância e reflexos do mesmo na vida das pessoas e na sociedade em geral. As questões da paridade têm que ser encaradas a sério, com responsabilidade, quer pelos Governos, adequando e flexibilizando a legislação laboral, quer pelos cidadãos, criando uma nova consciência cívica, sob pena de estarmos a criar um fosso entre as expectativas das pessoas e a realidade, gerador de seres desmotivados, stressados, zangados, improdutivos e infelizes.
Agora, detenho-me no Programa eleitoral de Manuela Ferreira Leite para constatar que, depois do autêntico braço de ferro contra o TGV, vem agora prometer “reanalisar o projecto” e, sobre o novo aeroporto de Lisboa, propõe “reanalisar calendários e custos de construção”.
Parece, pois que, a fazer fé no Programa, aqueles investimentos sempre fazem falta e, além disso, parecem passíveis de execução. Após reanálise…
Ainda um artigo de Fernando Madrinha, no Expresso, que refere, também a propósito do Programa de MFL, que o PSD tem uma palavra amiga para todas as classes zangadas com Sócrates para concluir, com refinado humor, que os programas eleitorais só dão boas notícias. Penso nisso e descubro que está aí o cerne da questão. No momento da concretização, da aplicação das medidas, surgem as dificuldades várias, a falta de meios e de recursos. E porque esta parte não havia sido anunciada, as pessoas mais sensíveis sentem-se traídas! E os votos fogem… Às vezes para outro lado. Outras, para lado nenhum. Cruzo esta notícia e a análise que faço da mesma com outra que questiona como vai sobreviver a democracia representativa aos novos tempos, face à cada vez maior desconfiança dos cidadãos em relação aos políticos e descubro a resposta no excelente artigo do Daniel Bessa que refere que “a maestria com que o Governo português resolveu o problema da Segurança Social justifica, muito justamente, a admiração mundial”. E conclui dizendo que tendo este feito sido conseguido sem oposição à esquerda e sem protesto de rua, a política só pode ser uma arte.
A resposta está, afinal, na arte. A arte de fazer política. Com seriedade, rigor, discrição. E eficácia.
Parece que estamos a precisar de mais artistas, como este! – digo eu…

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