Com a 30ª edição da Ovibeja à porta, o presidente da ACOS – Agricultores do Sul, Manuel Castro e Brito, faz o balanço de três décadas de feira em entrevista ao “CA”.
A Ovibeja está aí, mais uma vez, à porta. São 30 anos de feira. Para trás há já história. Como é que vai ser esta 30ª edição da Ovibeja?
Com 30 anos as pessoas e as coisas asseguram a sua personalidade cada vez mais e a Ovibeja é uma feira, na verdadeira acepção da palavra, que veio continuar uma feira que existia. Não é nem uma exposição específica de agricultura, nem uma feira regional ou uma feira apenas de comércio ou divertimentos. É tudo isso, tem todas essas especificidades em conjunto e esse foi o modelo que se encontrou e que se constituiu já como a tradição desta feira.
Com 30 anos é já uma feira madura…
Sim, é uma feira madura e muito conhecida no país todo e no estrangeiro. E é uma feira que não engana o visitante, que oferece uma quantidade de oportunidades a quem a visita e a quem aqui está a fazer negócio.
A Ovibeja tem sido desde o início organizada pela ACOS – Agricultores do Sul, uma organização de agricultores e produtores pecuários. Mas é curioso que a feira se tenha afirmado em paralelo com a diminuição do peso da agricultura na economia portuguesa.
Sem dúvida e teve a ver com o exercício que foi feito de abrir a feira a toda a gente e trazer até aqui a informação do que se passa na actividade agrícola e pecuária, mas não só. Quisemos trazer para a feira também aquilo que é a vida do interior do país, a vida do campo, a vida das aldeias, das pequenas cidades, com uma cultura muito própria. A palavra cultura é cada vez mais abrangente hoje em dia, muito mais do que há 30 anos atrás…
A Ovibeja foi também uma “janela” que se abriu para esta cultura e para estas vivências do interior, da ruralidade?
Sim, a ideia foi essa. E esse exercício traz aqui muita gente, que tem curiosidade de saber o que é que se passa fora das grandes cidades. Nós sabemos que ultimamente tem havido uma grande publicidade – digamos assim – ao sector agrícola e à agricultura, que é uma actividade que se tem mantido. É uma actividade muito difícil, que requer muito investimento e que requer muito know how, muito saber técnico e muita experiência. É também um sector que a comunicação social agora parece ter descoberto, mas que afinal está cá desde sempre.
Mas tem sido importante essa “descoberta mediática” da agricultura?
Há alguma demagogia em volta desta propaganda à agricultura, que muitas vezes induz em erro. A agricultura nunca foi um grande negócio. É uma actividade que nunca foi especulativa e que deve ser encarada com seriedade e com bom senso.
Voltando à 30ª edição da Ovibeja. A água, o vinho e o azeite vão estar em destaque. São os líquidos preciosos do Alentejo?
Também são. Há muita gente a ganhar a vida com o azeite e com o vinho, não apenas os agricultores que se dedicam a isso, mas todo o tecido social envolvente. Muita gente que tem oficinas, que tem negócios ligados ao sector da agricultura, etc. É um tema que está na actualidade, tal como a água que todos temos que pensar em gerir da melhor maneira, poupar, preservar a sua qualidade e que essa é uma grande preocupação que todos deveremos ter.
Este ano assinala-se o Ano Internacional da Cooperação pela Água, também celebrado na feira.
Sim, em que se apela a uma melhor gestão da água e por isso faremos aqui na Ovibeja algumas manifestações acerca desse assunto.
Esta Ovibeja vai ser também marcada pela instalação no espaço da feira de um monumento à Ovelha, o símbolo da ACOS, que esteve na base da actual associação Agricultores do Sul.
A ACOS começou como uma associação de criadores de ovinos e os seus associados eram unicamente os criadores de ovinos. A ACOS hoje tem várias vertentes da pecuária e da agricultura em geral e isso é importante porque se aproveitou uma dinâmica já existente para se ir um pouco mais longe. Mas recordamos sempre os nossos princípios, a forma como começámos. Infelizmente o sector dos ovinos e caprinos é dos sectores que mais têm diminuído no nosso país. Também por isso iremos fazer uma homenagem com uma escultura que representa os princípios da associação e é, de facto, uma ovelha. Vai ficar mesmo em frente do Pavilhão Multiusos, que é propriedade da ACOS.
Este Alentejo é muito diferente daquele que existia há 30 anos quando se realizou a primeira Ovibeja?
Os problemas são iguais, mas a mentalidade das pessoas melhorou um pouco. A mentalidade de quem faz agricultura é demasiadamente conservadora e é preciso termos uma mentalidade mais aberta, mais tolerante e mais objectiva para tratarmos dos nossos assuntos. Também é preciso nunca nos esquecermos que a agricultura tem uma vertente social muito importante, porque sem pessoas não há agricultura., como também não haverá pessoas se não houver agricultura, porque todos temos que comer. De qualquer modo, nos últimos 30 anos progrediu-se bastante, também porque os mais novos têm já um bom conhecimento deste sector.
Mas olhando para os problemas da região eles mantêm-se. Não há emprego, a região continua a perder população…
Nos últimos 50 ou 60 anos já perdemos mais de metade da população e esta é uma realidade que envolve responsabilidades de todos, principalmente dos políticos que têm tido uma atitude muito demagógica para com a agricultura e para com as gentes do interior. No interior não há votos, é este o problema, e enquanto houver esta mentalidade contabilística dos votos nada irá acontecer de bom para o interior do país, mas também para o país em geral. E pormos os nossos créditos em mãos alheias, em pessoas que pensam muito no umbigo e em toda esta alternância de poderes, que vai dar ao mesmo, a que temos assistido nos últimos 30 anos é, de facto, horrível. Hoje vemos pessoas que tiveram todos os poderes nas mãos, que se aproveitaram deles para proveito próprio e a quem não acontece nada por isso.
E muitos desses políticos têm passado aqui pela Ovibeja.
A Ovibeja sempre foi muito popular, nunca foi elitista e penso que nunca irá ser. Há aqui a sensibilidade de que os políticos, alguns políticos, não são todos felizmente, muitas vezes estão a mais na Ovibeja, como estão a mais na governação do país.
Este ano a Ovibeja vai receber a presença de políticos dos vários quadrantes?
Penso que sim. Nós recebemos aqui a maior parte dos políticos com uma grande satisfação.