Em entrevista ao “CA”, o presidente da ACOS, Manuel Castro e Brito, garante que a Ovibeja é um certame que “não dorme na forma” e continua a projectar o Alentejo.
A Ovibeja é já uma feira com o seu lugar bem definido no panorama nacional?
Sim, mas a Ovibeja não “dorme na forma”. Todos os anos temos mais desafios, todos os anos temos mais investimentos, todos os anos procuramos uma diferenciação comparando com o geral das feiras. Sem falsa modéstia, tenho muito orgulho em dizer que a Ovibeja criou uma matriz para as feiras de norte a sul do país. Não havia rocks’n’rolls nem espectáculos à noite em nenhuma feira. A Ovibeja pôs isso no terreno e hoje em dia há em todas. Não havia DJ’s, a Ovibeja apareceu com DJ’s. Não havia exposições temáticas… De há 15 anos para cá a Ovibeja faz sempre exposições de vários temas, da produção, à água, ao ambiente, ao azeite e ao vinho, etc., numa atitude pedagógica para quem a visita, sejam novos ou velhos. De facto a Ovibeja presta um serviço não só à agricultura, mas sim à população, ao consumidor em geral, que aqui tem a possibilidade de aprender muita coisa e saber aquilo que come. Por outro lado, a Ovibeja continua a ser a maior concentração de gado exposto numa feira e vem muita gente de todo o lado para mostrar às crianças um animal vivo. É aqui que vêm ver os animais que vivem no campo.
A Ovibeja tem conseguido dar também outra imagem mais positiva, mais dinâmica do Alentejo?
Sem dúvida nenhuma. A Ovibeja, por si só, é um exercício de dinâmica, de coragem, de ir para a frente! A Ovibeja nunca teve um discurso lamechas. A Ovibeja tem sim reivindicado aquilo a que a agricultura e as regiões do interior têm direito. É muito fácil dizer que o Estado vai deixar de investir em estradas porque já se construiu muito. Claro que é fácil para quem tem auto-estrada à porta e linha de caminho-de-ferro electrificada diga isso, porque já tem. Mas os que não têm nada disso, como é o nosso caso, não podem ficar calados. Estas coisas têm que ser abordadas pelo bom senso e não pelo lado da propaganda política. Estamos todos fartos disso.
Este ano a feira tem como lema principal a inovação agrícola e o aparecimento de novos produtos. É uma aposta em novos conteúdos?
É uma outra fase que estamos a passar aqui no Alentejo. Por um lado, é a modernização das explorações agrícolas, com novas culturas, mas muitas vezes voltando ao que era antigamente. As explorações que não têm água terão que fazer agora com a nova PAC uma gestão mais ecológica, responder a mais exigências de boas práticas ambientais. E é esta a abordagem que temos de fazer, seja com a presença da água, com o regadio, seja devido à nova PAC onde o bem-estar e o ambiente têm muito peso.
A Ovibeja deste ano vai ter o espaço “Terra Fértil”, dedicado à inovação e aos novos produtos da terra. Que outras novidades se podem encontrar?
As novidades são trazidas, a maior parte delas, pelos nossos expositores. Eu costumo dizer: a Ovibeja é sempre a mesma coisa, mas sempre também com novidades. Mas já há pouco por inventar, não há dúvida. Por isso fazemos um esforço, sempre com a ajuda dos nossos expositores. No ano passado demos já um salto com um novo espaço onde existe alguma experimentação de culturas, onde está a maquinaria agrícola, e a que chamámos o “Campo da Feira”. Este ano vamos melhorá-lo, já temos as culturas no terreno… Esta é uma feira muito grande e é preciso muito tempo para quem a quer visitar em pormenor.
A Ovibeja é também, em geral, uma feira que serve de palco para os vários discursos políticos se fazerem ouvir. Este ano a feira realiza-se pouco tempo antes das eleições europeias e essa característica vai manter-se, por certo…
Todos os políticos que aqui vierem são bem-vindos. A Ovibeja faz-se sempre, com ou sem a classe política. Se a classe política vier, a organização fica muito satisfeita e muito agradecida porque é necessário que eles vejam o que se passa no Alentejo. E a Ovibeja, quer se queira ou não, é a montra do Alentejo. Temos tido a sorte de muitos políticos serem adeptos da Ovibeja, mas há também alguns que não gostam muito da Ovibeja.
Outra marca da Ovibeja são os concertos à noite, virados para um público mais jovem. Este ano o cartaz integra, entre outros, Gabriel O Pensador e os Buraka Som Sistema…
Nós temos sempre uma grande afluência para os espectáculos da noite. São sempre bons grupos, bons artistas e a organização investe nessa área. A Ovibeja não fecha, funciona 24 horas por dia. Há aqui uma grande descontração, mas também uma grande responsabilidade porque, felizmente, não têm acontecido problemas de monta.
E sentem que a noite e os concertos são um dos grandes momentos de atracção da feira?
Sem dúvida. Aliás nota-se que os mais jovens começam a invadir, no bom sentido, a feira a partir das sete horas da tarde. Nota-se imediatamente a afluência, o que é também muito positivo para todos os expositores.