As obras de requalificação da Basílica Real de Castro Verde são cada vez mais necessárias, mas a sua execução está muito longe de tornar-se realidade. O projecto deveria ter sido candidatado a fundos comunitários através do programa operacional Alentejo 2020, mas o prazo do aviso de concurso terminou no passado dia 27 de Julho sem a apresentação de qualquer candidatura relativa ao monumento, classificado como Imóvel de Interesse Público, inviabilizando assim qualquer tipo de intervenção no local a curto prazo.
De acordo com o director do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) da Diocese de Beja, o projecto estava a ser trabalhado “há ano e meio”, envolvendo a Diocese, a Paróquia de Castro Verde, a Câmara Municipal, a Direcção Regional de Cultura do Alentejo e a Associação de Desenvolvimento Regional Portas do Território e com o apoio do Atelier Bugio.
“Progredia com normalidade todo este processo quando ocorreram inadvertidamente obras em monumentos religiosos de distintos locais do concelho que não se revelaram adequadas para a preservação do património cultural e levaram a um compasso de espera, para clarificar que tipo de intervenção se iria preconizar para a Basílica Real”, explica ao “CA” José António Falcão.
Este “compasso de espera” acabou por redundar na não apresentação da candidatura ao Alentejo 2020. O processo está agora parado, mas José António Falcão acredita que possa em breve avançar.
“As diferentes entidades estão a tentar reconstituir as peças do ‘puzzle’ e ver como e em que altura será possível apresentar uma nova candidatura. O trabalho prévio é lento e urge recomeçar, principiando, desde logo, pelo que ficou no limbo, ou seja, os protocolos entre a Paróquia, a Câmara Municipal, a Direcção Regional de Cultura e a Associação Portas do Território”, diz o director do DPHA. “Há que assumir, entre todos, uma metodologia de intervenção adequada às actuais circunstâncias, algo que não se compadece com improvisos”, acrescenta.
José António Falcão lembra que o restauro da Basílica Real de Castro Verde “é uma intervenção muito complexa do ponto de vista técnico” e “requer um financiamento elevado”. “Daí o esforço que se fez, ao longo de anos, para construir uma parceria sólida com o Município e o Estado. Hoje, a recuperação do património religioso assenta fundamentalmente nesta capacidade de se criar uma dinâmica entre instituições, tendo em vista a cooperação técnica e financeira. Não creio que haja outra alternativa. Em Castro Verde estava a ser trilhado o caminho certo. Oxalá seja agora possível continuar, quanto antes, esse percurso”, conclui.
Inverno agravou problemas
O estado de degradação da Basílica Real de Castro Verde é bastante elevado e o director do DPHA reconhece que o último Inverno agravou a situação.
“Não é preciso ser-se especialista para observar isto a olho nu. Atingiu-se o fim da linha. O tecto que representa o Milagre de Ourique, uma das obras-primas do barroco português, as pinturas murais, os azulejos do famoso mestre PMP, para citar apenas alguns sectores fulcrais, encontram-se em risco”, explica José António Falcão.
Para este responsável, “se nada for feito, é inevitável que o monumento acabe por ter de ser encerrado ao culto e aos visitantes, por motivos de segurança”. “Já imaginou o que pode suceder se cair uma tábua ou uma telha de muitos metros de altura?”, questiona em tom de alerta.