António Nascimento. “Mineiro Aljustrelense precisa de ‘sangue novo’”

António Nascimento liderou, ao longo de 16 anos, o futebol sénior do Mineiro Aljustrelense. Na hora da saída, faz ao “CA” o balanço de um percurso com muitas vitórias e em que conquistou um total de 11 títulos (um dos quais nacional).

Depois de 16 anos ligado ao futebol do Mineiro Aljustrelense, o que o levou a decidir sair do clube no final deste mandato?

São 16 anos de muito trabalho e sinto-me cansado. E o Mineiro, neste momento, precisa de “sangue novo”!

Nestes 16 anos nunca pensou ser presidente do Mineiro Aljustrelense?

Por acaso nunca pensei nisso… Em 2012-2013 ainda houve essa hipótese, mas depois apareceu o António Manuel [Gonçalves] e eu fiquei como vice-presidente. A partir daí nunca mais pensei nisso e agora muito menos. Estou muito cansado.

Ou seja, a sua saída é irrevogável?

A decisão está tomada e muito dificilmente voltarei atrás. Só se o clube entrar num “vazio”, sem que apareça alguém [a concorrer às eleições]. Aí logo se vê o que a gente pode fazer. Mas vai ser muito difícil voltar com a minha palavra atrás.

Sente que o futuro do clube está assegurado?

O clube começou a ter muito melhores condições a partir de 2004-2005 e todos os presidentes que por aqui passaram fizeram coisas positivas para o Mineiro. Uns mais outros menos, mas todos fizeram coisas positivas! Portanto, o passo está dado. Agora é preciso aparecer uma pessoa que continue esse trabalho. Porque o Mineiro tem infraestruturas para não andar no distrital. Sei que andar no nacional é muito difícil, mas para a próxima época volta a antiga 3ª divisão nacional e nós podemos ir em frente. Como a competição vai ser na próxima época, penso que o Mineiro tem todas as condições para ir para o Campeonato de Portugal.

Porquê?

Porque o Mineiro tem coisas boas que poucos clubes têm no distrito de Beja. Tem uma massa associativa única – basta ver que estamos com quase dois anos de pandemia e as pessoas continuam a pagar as quotas. E depois é uma massa associativa que acompanha a equipa. Vamos jogar a Lisboa ou à zona de Setúbal e nunca vamos sozinhos. Em Aljustrel ainda existe bairrismo! Por isso digo que o Mineiro tem todas as condições de ir para o Campeonato de Portugal, mas nos moldes em que a competição está prevista para a próxima época.

No modelo presente é mais complicado.

É muito difícil! Na nossa série lutámos com clubes que são, praticamente todos, SAD’s, com investidores. E nós não! Só contamos com o dinheiro dos sócios, com o que a Câmara Municipal e os patrocinadores nos dão e com os eventos que fazemos … E há quanto tempo não fazemos eventos? Assim começam a faltar verbas. Terminámos a época passada [2019-2020] com um saldo positivo de 22 mil euros, que foi a nossa sorte para esta época. E felizmente acabámos esta época desportiva com tudo em dia com os nossos jogadores, treinadores ou elementos do gabinete técnico. Isso é que nos orgulha. Portanto, há que continuar e esse passo tem ser na parte desportiva. Na próxima época haverá quatro divisões [nacionais] e o Mineiro tem de ir para o Campeonato de Portugal. Fazemos parte do “Grupo dos 25” e espero que a nossa descida seja revertida.

Acredita que essa reivindicação de 25 clubes junto da FPF será bem sucedida?

Acredito que sim! Porque se as equipas da Madeira, que não jogaram derivado às circunstâncias em que o país está, não fizeram investimento nenhum e ficaram no Campeonato de Portugal, não é lógico que aqueles que fizeram investimento – que é o caso do Mineiro e dos outros 24 clubes – desçam de divisão. Não é justo e não tem lógica nenhuma! Portanto, tenho uma esperança que o Mineiro fique no Campeonato de Portugal.

Já o perguntei ao presidente Rui Saturnino – fez sentido disputar esta época nas circunstâncias atuais?

No início da época reunimos e havia diretores que queriam disputar o Campeonato de Portugal e outros que preferiam abdicar e disputar o campeonato distrital…

Qual era a sua preferência na altura?

De princípio era disputar o campeonato distrital. Mas depois mudei de ideias, porque temos de ser ambiciosos. Sabíamos que ia ser muito difícil, mas tínhamos acabado a época com um saldo positivo de 22 mil euros e não tinha lógica nenhuma não irmos para o Campeonato de Portugal. E apesar de termos descido de divisão – se a FPF não voltar atrás nisso – fizemos uma boa época a nível financeiro e vamos deixar o clube com um saldo positivo. Isso é que é importante para o clube!

Nestes 16 anos de ligação ao futebol sénior do Mineiro Aljustrelense, consegue eleger o momento mais marcante?

O que mais me orgulha é ter mais de 400 jogos no banco, entre nacionais e distritais, e não ter havido um árbitro que me tenha exibido um cartão amarelo ou expulsado do banco. Fico muito orgulhoso disso! E depois passámos por muitos bons momentos. Em 16 anos tenho 11 títulos pelo Mineiro: quatro campeonatos distritais, um campeonato nacional da 3ª divisão, duas taças do distrito e quatro supertaças distritais.

Qual foi o título que teve mais significado?

O de campeão da Série F da 3ª divisão nacional [em 2008-2009].

Que era algo impensável para muita gente.

Impensável! Quando chegámos a Loulé, começámos o jogo [com o Campinense] e olhámos para a bancada e só víamos o azul, branco e vermelho, tanta gente de Aljustrel. Depois sermos recebidos nos Paços do Concelho – o presidente da Câmara era o dr. José Godinho –, em que fizemos uma festa em frente à Câmara com uma multidão, pessoas a chorar, jovens e menos jovens… Foi a coisa que me impressionou mais nestes 16 anos.

E pela negativa, qual o momento mais difícil destes 16 anos?

Foi uma descida de divisão com os nossos vizinhos do Castrense. Não me recordo da época, mas sei que foi num dia de aniversário do Mineiro Aljustrelense [25 de maio]. Fomos a Castro Verde, empatámos a uma bola e descemos de divisão. Tínhamos a festa de aniversário nesse dia e custou-me muito. Se tivéssemos alcançado a manutenção a festa era outra… Foi muito triste descer de divisão no dia de aniversário do Mineiro.

Qual o jogador do Mineiro que mais o marcou neste seu percurso no clube?

Muitos, mas – e perdoem-me os outros – vou destacar um: Ricardo Catchana! Foi um jogador marcante e acho que o Ricardo Catchana ficou com o Mineiro no coração. Era um jogador que podia ter chegado mais longe.


E qual o treinador mais marcante?

Que me perdoem os outros todos, mas vou destacar quatro: João Caçoila, Francisco Fernandes, Vítor Rodrigues e João Candeias. Mas aprendi com todos e todos me ensinaram alguma coisa. Até um que só esteve cá uma semana e que gostava de ter ficado no Mineiro, mas que na altura recebeu uma boa proposta do Qatar, que foi o Rui Maside. É um treinador que ainda gostava de ver a treinar o Mineiro.

Como olha para a realidade do futebol no distrito de Beja?

Começando pelos jogadores, parece-me que os jogadores do distrital de Beja têm pouca ambição. Muito pouca ambição!

Por que diz isso?

Porque os jogadores que andam no campeonato distrital e estão naquelas equipas que sobem de divisão, muitos deles – que até podem singrar – perdem a ambição e preferem ficar numa equipa do distrital, a treinar menos. Porque o nacional já exige mais responsabilidade e esses jogadores não querem assumir essas responsabilidades! Atualmente, no plantel do Mineiro temos três jogadores jovens a quem prevejo grande futuro.

Quais?

Pedro Seco, que é um exemplo. Gonçalo Serrão, que com 18 anos é outro exemplo. E Pedro Fialho, a quem dou um conselho: tem de trabalhar mais, mas pode ir longe. São todos jogadores de futuro, mas têm de trabalhar. Caso contrário, não vão a lado nenhum. E os jogadores do distrito de Beja são jogadores que não querem responsabilidades e têm pouca ambição de chegar aos nacionais.

E isso deve-se a quê, na sua opinião?

Deve-se a muitos fatores… Desde logo aos empregos: antigamente trabalhava-se de segunda a sexta-feira e agora também já se trabalha aos sábados, domingos e feriados. E quem tem esses empregos já não pode dar o contributo às equipas como dava antigamente. Depois, a competição no distrito de Beja não é muito divulgada. A nossa associação – apesar das pessoas que lá estão fazerem muito – lá fora é vista quase como se fossemos uns ‘coitadinhos’. E nós também somos culpados disso. Porque temos pessoas, tanto dirigentes como jogadores, para dar volta a isto. Mas depois, lá está, parece que há falta de ambição. Os próprios dirigentes têm de ter mais ambição. Falo até por mim e esta é uma das razões porque quero sair: é que a minha ambição já está a faltar.

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